• Aparição do inseto transmissor da doença de Chagas acende alerta em Águas Claras

    Aparição do inseto transmissor da doença de Chagas acende alerta em Águas Claras
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    A aparição do inseto transmissor da Doença de Chagas no apartamento de um morador de Águas Claras acendeu um alerta na comunidade: a região está entre as que mais apresentam a incidência do barbeiro no DF. Segundo especialista da Universidade de Brasília (UnB), na capital a média ao ano é de 260 barbeiros. No entanto, não há motivo para pânico. A situação é comum em épocas de chuva e de altas temperaturas, e em regiões próximas a matas de galeria. A Secretaria de Saúde aponta que não há casos de infecções no DF.

     

    Assustado com a presença do bicho em área urbana, o fisioterapeuta Dayvison Seixas, 36 anos, contou que na mesma hora se lembrou da época em que aprendeu sobre o animal. “Meus pais são baianos e lá tem muita casa de pau a pique. A história do barbeiro me remeteu à época de escola, em que via o inseto nos livros. Na hora me veio a recordação. Mas ao mesmo tempo me questionei: - como ele chegou até aqui?", lembra.

     

    Seixas viu o barbeiro, da espécie Panstrongylus megistus, no banheiro, e sua reação foi adequada: ele não o matou, mas o capturou para levar a análise. Depois, foi constatado que o inseto estava com o protozoário Trypanosoma cruzi, causador da Doença de Chagas.

     

    “Quando eu o vi, entrei em contato com as minhas irmãs, não tinha nem mexido. Fiz uma postagem num grupo para alertar e entender o que podia fazer. Não sabia o que fazer ao certo, tanto que não capturei de forma muito prevenida. Prendi com um pote, e foi fácil porque ele estava quieto. Momento algum pensei que poderia estar infectado”, recorda. Com o post na internet, um biólogo entrou em contato e levou o bicho à UnB.

     

    O responsável por identificar o animal foi o professor Rodrigo Gurgel, especialista em parasitologia. O primeiro passo foi distinguir a espécie, que contou com a ajuda do aplicativo TriatoDex, desenvolvido por ele: “Depois, fazemos o exame. Com a devida segurança para evitar infecção, apertamos o abdômen do barbeiro para extrair as fezes ou o intestino dele numa lâmina. Depois a gente verifica a presença dos parasitos”.

     

    Mais comum perto de mata

    Preocupado se poderia ter sido infectado, o morador de Águas Claras e sua esposa fizeram um exame de sangue. “Deu tudo certo, não apareceu nada nos resultados. Mas também não pareceu ter tido nenhuma picada no corpo. A equipe da Vigilância Ambiental me informou que a picada é como a de um borrachudo: não dói na hora, mas depois coça. Não senti nenhuma coceira e minha casa não tem mais nenhum bicho”, comenta o fisioterapeuta Dayvison Seixas. O curioso é que o apartamento de Seixas fica no nono andar.

     

    A reportagem também identificou outro morador de Águas Claras que encontrou uma espécie parecida com o barbeiro. Até o fechamento desta edição, ele não havia atendido ao contato do JBr., que buscou saber mais detalhes. No mesmo grupo do Facebook onde a situação foi comentada, há relatos de moradores da região que afirmaram ter visto o inseto em apartamentos próximos ao parque da cidade.

     

    Maior incidência

    Vicente Pires, Park Way e Paranoá estão no topo das regiões administrativas com mais registros do barbeiro, de acordo com uma pesquisa do especialista em parasitologia Rodrigo Gurgel, no período de 2012 a 2014. Segundo ele, é comum a presença dos bichos por serem regiões com vegetação que acompanha os córregos.

     

    “Os barbeiros vivem nas matas. Nessas matas existem animais como gambás e roedores, que estão infectados com o parasito. O barbeiro se alimenta do sangue desses animais e pode transmitir para outros”, explica.

     

    Antes dessa pesquisa, Gurgel realizou um estudo que mapeou as principais espécies que vivem no DF. Ao todo, seis foram registradas em 20 regiões, principalmente em Planaltina, Sobradinho, Águas Claras, Brazlândia, Park Way, Paranoá, Guará e Vicente Pires.

     

    A saída da mata para a cidade se dá pela busca por alimento. “Pode ocorrer um desequilíbrio do ecossistema, uma mata pode não ter tanto alimento. Além da proximidade com a cidade, o que estimula é a temperatura, a falta de alimento e o direcionamento para fontes de luzes. Os barbeiros não são bons voadores, mas com os estímulos conseguem”, afirma Gurgel.

     

    A chegada dos barbeiros não é uma novidade na capital. De acordo com o especialista, há cerca de três anos o DF tem registrado mais a presença do animal. A média, por ano, é de 260 insetos que chegam até os laboratórios. “O que nos preocupa não é a invasão na área urbana, mas sim a colonização, a chance de progressão. O barbeiro chega a um local, coloca seus ovos e ali forma uma população, o que não acontece nos casos daqui do DF”, pondera.

     


    Fonte: www.jornaldebrasilia.com.br

    Foto: Internet /Reprodução

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